segunda-feira, 12 de maio de 2008

HONÓRIO, O GURGEL – O TÚNEL

O motor trabalhava redondo e a pista, àquela hora, estava quase vazia. Ao lado, o co-piloto vinha tranqüilo, ele que às vezes simulava enfartes, sempre que o teto-solar resolvia abrir sozinho, com o vento, ocasião em que o choque da escotilha quadrada com a capota do Gurgel provocava certo estrondo.

Nas reduzidas, nada daquelas explosões de fusca, ou kombi. O carro parecia num de seus melhores dias e assim adentramos no Túnel Santa Bárbara, em velocidade contínua, rodando macio. Lá dentro, na pista da esquerda, pé embaixo, o capô resolveu abrir. Veio de uma vez só, plaf, e colou no pára-brisa, deixando à mostra somente uns quatro centímetros de vidro transparente de cada lado.

O co-piloto dessa vez não simulou ataques do coração. Botou a cabeça pra fora da janela e me ajudou a passar pra pista da direita. Túnel vazio, retrovisor não bloqueado por uma chapa cinza quase do tamanho do pára-brisa, até que o procedimento foi relativamente tranqüilo. Aí foi só me guiar pelos quatro centímetros de vidro do meu lado e seguir as orientações do co-piloto pelo lado do carona até chegar ao fim do túnel, que por sorte é em linha reta.

Uma parada estratégica, na administração do Santa Bárbara, um barbante gentilmente cedido por funcionário de lá, amarra-se daqui, prende-se dali e pronto. Seguimos viagem, com o motor trabalhando redondo, o carro rodando macio, sem explosões nas reduzidas, o teto-solar firme e o capô a dar suas batidinhas de vez em quando, curtas, breves, limitadas por alguns nós bem dados.