quarta-feira, 31 de março de 2010

O MÉDICO

O plantão estava calmo no Hospital Municipal de Mangaratiba, e o médico fumava. Cara de cansado, a camisa branca pra fora da calça, de manga curta, falava dentro da sala onde tudo acontecera, um espaço menor que o pior conjugado de Copacabana, cercado por ladrilhos brancos de todos os lados, inclusive na bancada do centro, pouco maior do que uma cama de solteiro. A bancada, com mármore no alto, era o único “móvel” do recinto. Não havia mais nada ali além das paredes de ladrilho e do médico, que contava a história do paciente de dois dias atrás, à beira da morte, depois de cair de avião numa praia.

A missão ali, naquela sala sem nada, era manter vivo o paciente, que deu entrada no hospital com sérias dificuldades para respirar, traumatismo crânio-encefálico e provável hemorragia intracraniana, e ninguém precisa ser médico pra saber que um quadro desses não é nada simples. Manter ele vivo, repetiu o médico, fumando ainda, era só o que podia ser feito naquela sala vazia, o paciente deitado no mármore.

Durante cerca de 15 minutos, o médico e mais nove colegas, outros médicos e enfermeiros, mantiveram o paciente com vida, dentro daquela sala sem nada, e com vida o entregaram ao helicóptero que o transportou para o Copa D’Or, onde novos médicos, renomados, consagrados na profissão, conseguiram, com a ajuda de tudo de mais moderno disponível na medicina, salvar definitivamente a vida de Herbert Vianna. Um trabalho de fato espetacular, que mostra como a inteligência humana é capaz de salvar uma vida que se esvai. De um fiapo de reação do organismo, quase último sopro, os grandes médicos, renomados, conseguem trazer o sujeito de volta, como no caso do Herbert Vianna. Só precisam do fiapo de vida. E o médico, a camisa social e a calça ligeiramente amarrotadas, fumava naquela sala sem nada, com a cara de cansado e um certo ar de consciência tranqüila.

O resto da história do acidente e da recuperação de Herbert Vianna está nas duas matérias abaixo. A primeira delas foi assinada também pela Márcia Montojos e pela Vivianne Cohen. A segunda foi mais uma parceria com a Vivianne Cohen.


Revista Istoé Gente, edição número 80, de 12 de fevereiro de 2001

“O quadro dele era gravíssimo. Nosso trabalho foi o de estabilizar o paciente na gravidade para ser socorrido numa unidade com mais recursos”

Na noite do sábado, 3, o cantor Leoni, ex-integrante da banda Kid Abelha, e sua mulher, Luciana Fregolente, receberam em casa seus novos vizinhos: o músico Herbert Vianna, líder do conjunto Paralamas do Sucesso, e a mulher, a jornalista inglesa Lucy Needham.
Velho amigo do casal, Leoni havia completado naquela semana a mudança para a nova casa de Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde Herbert e Lucy residiam havia mais de seis anos. “Nos divertimos como amigos de 20 anos que se encontram e se gostam”, conta Luciana. O jantar se estendeu pela madrugada. Herbert confidenciou à mesa que estava de férias e pronto para investir na boa forma física praticando natação e corrida diariamente.
Lucy chegou a comentar que no dia seguinte ela iria voar pela primeira vez no novo ultraleve do marido — um modelo Fascination, de dois lugares, fabricado na Alemanha e capaz de atingir 280 km/h, o mais avançado dos três ultraleves que Herbert Vianna adquiriu nos últimos quatro anos.
“Só perguntei se ela queria deixar a Hope na minha casa, mas a Lucy disse que as crianças iriam a uma festa”, conta Luciana, referindo-se à filha do meio do casal de amigos. No fim da comemoração, ficou acertado que a primeira saída dos quatro juntos como vizinhos de bairro seria um pulo ao cinema, na quarta-feira, 8, para assistir às agruras de Tom Hanks em O Náufrago.
Às duas horas da tarde do domingo, 4, Herbert chegou acompanhado de Lucy à sede do Clube Esportivo de Ultraleve em Jacarepaguá, próximo à sua casa. Foi direto à secretaria para fazer sua notificação de vôo. Os dois seguiriam para Mangaratiba, no litoral Sul do Rio de Janeiro, onde o músico Dado Villa-Lobos, ex-integrante da Legião Urbana e amigo de Herbert desde a época da adolescência, em Brasília, preparava um churrasco de comemoração do aniversário de sua mulher, Fernanda. Antes de embarcar Herbert inspecionou a aeronave de prefixo U 5210 durante meia hora. Verificou o óleo do motor, as asas e os comandos. Pegou no seu armário o headphone e pediu para que colocassem o avião na pista. Por fim, abasteceu o tanque de gasolina.
Eram duas e meia da tarde e estava tudo pronto para a decolagem quando ele teve uma última conversa com Valdir Lacerda, 51 anos, seu mecânico desde o primeiro ultraleve, adquirido há quatro anos.
– Você está indo para onde? — perguntou Valdir.
– Para Mangaratiba, no aniversário de uma amiga — respondeu Herbert.
– Vai com calma, porque vai ter formação de chuva para o lado de lá.
– Tá tudo bem – disse Herbert, levantando o polegar em sinal de positivo.
A nova aeronave tinha apenas 42 horas de vôo. Havia sido comprada há dois meses em Fortaleza, por US$ 80 mil. Quando chegou ao hangar do clube de ultraleve, foi saudada na oficina com champanhe francês. “Ele só passou a usar a máquina quando instalou os pára-quedas”, afirma Valdir.
Coube ao irmão de Herbert, Hermano, e a sua mãe, Maria Teresa, a missão de reunir as crianças para dar a notícia da tragédia na presença de uma psicóloga. Assim que souberam da morte da mãe, Luca, 8 anos e Hope, 5, começaram a chorar. Phoebe, de um ano e meio, deu brinquedos para os irmãos. “Se eu estivesse lá, abria a porta e salvava a mamãe”, disse Luca. “Eu sei abrir a porta do avião.”
Hermano, que dormiu no quarto de Luca, contou que o menino passou a noite perguntando sobre os pais. “Ele pegou a foto de um painel e me falou. “Esta é a foto mais preciosa que eu tenho: a minha família toda reunida”, disse o menino, grudando-a no computador. Emocionado, Hermano contou que Luca pediu a mãe de volta. “Eu disse que todos nós queríamos, mas que isso era impossível. Aí ele falou: “Mas tem a máquina do tempo”.
Uma hora depois da rápida conversa com o mecânico, o cantor e Lucy já estavam na Enseada de Mangaratiba. Herbert, como piloto da aeronave, chegou a passar três vezes na frente da casa de Dado, no condomínio Portobello. Quando tentava outra manobra, o músico perdeu o controle da aeronave. Ela caiu no mar, a cerca de 20 metros da praia particular do condomínio. “Parecia que ele queria dar um vôo rasante”, conta o comerciante Guilherme Ribeiro, 36, que velejava na enseada na hora do acidente.
A parte da frente da aeronave ficou submersa, mas uma lancha que passava pelo local facilitou o resgate, empurrando o ultraleve para terra firme. O resgate do casal até a areia durou entre três e cinco minutos. Guilherme foi o primeiro a socorrer o líder dos Paralamas. “Saltei do meu barco e ajudei a empurrá-los para a areia. Entrei no ultraleve, retirei o cinto de segurança do Herbert e o tirei de lá.” Outros cinco velejadores que estavam no local ajudaram a retirar Lucy da aeronave. Aos 36 anos, ela deixou o ultraleve já morta.
A equipe de paramédicos da Defesa Civil de Mangaratiba chegou ao local cinco minutos mais tarde. Quando viram o acidente, Dado e Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, correram para a praia e entraram em desespero com o que presenciaram. “O Dado estava fazendo muita força para segurar a cabeça do Herbert, porque se ela caísse, poderia fechar a traquéia e prender a respiração dele”, contou Antônio Carlos Aniceto, coordenador da Defesa Civil. “O Dado não parava de gritar ‘Reage Herbert!’. Foi aí que nós assumimos e imobilizamos ele na prancha.”
As condições gerais de Herbert não pareciam boas. Ele tinha um corte de 15 centímetros na cabeça, um hematoma no peito e estava expelindo água do mar e sangue pela boca. “A pupila de um dos olhos estava dilatada e a outra, não. Isso nos fez suspeitar logo de lesão cerebral”, disse o chefe dos paramédicos.
Em 10 minutos, Herbert foi levado da praia para o Hospital Municipal de Mangaratiba. Lá, o cantor deu entrada na Sala de Parada, reservada a pacientes graves, com sérias dificuldades de respiração, traumatismo crânio-encefálico e provável hemorragia intracraniana. Na avaliação do médico Paulo Roberto Roseli, que chefiava a equipe de plantão, o corte na cabeça provocou perda de parte do couro cabeludo. Herbert mobilizou 10 pessoas da equipe do hospital — entre médicos e enfermeiros — nos 15 minutos em que permaneceu naquele local. “O quadro dele era gravíssimo. Nosso trabalho foi o de estabilizar o paciente na gravidade para ser socorrido numa unidade com mais recursos”, disse Paulo Roberto.
O momento mais crítico aconteceu no trajeto de helicóptero de Mangaratiba até o Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O músico teve uma convulsão e quase morreu. Uma hora depois de ter sofrido o acidente, Herbert dava entrada no Hospital Copa D’Or. Para comandar a equipe médica, formada por 20 profissionais, foi chamado o médico da família, o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho.
O pai de Herbert, Hermano, e os irmãos Hermano e Hélder foram os primeiros a chegar ao hospital. A mãe do cantor, Maria Teresa, passava férias em João Pessoa, na Paraíba, mas chegou ao Rio na noite de domingo.
As manobras que Herbert teria feito foram o estopim de uma polêmica. Enquanto testemunhas como Guilherme Ribeiro afirmam que o avião fez dois loopings e caiu quando o músico tentava o terceiro, amigos do roqueiro descartam essa hipótese. “Ele nunca faria isso”, diz o compositor Paulo Sérgio Valle, que também é piloto de ultraleve. “O perigo é a mudança repentina dos ventos naquele local”, diz Antônio Carlos Aniceto.
A primeira experiência de Herbert Vianna como piloto foi a bordo de um helicóptero há alguns anos, que ele largou devido ao alto custo para mantê-lo. O músico cresceu vendo o pai, Hermano, hoje major brigadeiro da reserva, pilotando aviões. Ainda na escola primária, quis prestar exame para ingressar na Academia da Força Aérea de Barbacena, mas foi reprovado porque era míope.
Nos últimos tempos, Herbert se dedicava cada vez mais à aviação. As horas vagas eram preenchidas com vôos diários de, no mínimo, 40 minutos. Muitas vezes, Lucy e os três filhos assistiam a suas manobras da piscina do clube. Além da mulher, Herbert também costumava levar Luca, para voar com ele.
Quando adquiriu a nova aeronave, ele teve que passar por um período de adaptação e tirar uma nova carteira de habilitação, o Certificado de Piloto Desportivo Avançado. “Ele foi um ótimo aluno. Chegou aqui já sabendo tudo”, afirma Jesus Domingues, seu primeiro professor de ultraleve.
A compensação para o fracasso na Aeronáutica veio na música. Em 1982, o jovem de 20 anos que tocava de brincadeira com o amigo Bi Ribeiro conheceu o baterista João Barone. Estavam formados os Paralamas do Sucesso, uma das bandas de rock mais respeitadas do País, que já vendeu mais de 4 milhões de cópias de seus 14 discos lançados desde 1983.
Herbert e Lucy se conheceram em 1989, quando a jornalista inglesa veio ao Brasil fazer um documentário para a BBC londrina sobre a música jovem produzida no Brasil. Um ano depois, ela e Herbert se casaram.
Presente em quase todas as viagens do marido, a jornalista inglesa usou a experiência de levar os filhos nas excursões para escrever Viajando com as Crianças – Um Guia para Pais de Primeira Viagem, em 1997. Durante as 100 páginas, Lucy conta suas experiências de viagens com a família completa. O casal conheceu a Grécia, o Marrocos, a Espanha, a França e os Estados Unidos com seus filhos a tira-colo. “Nosso filho Luca chegou a dormir na mochila, enquanto nós perambulávamos pelas vielas de Marrakesh”, conta, na página 41 do seu guia.
“Eu tive o tempo de me dedicar a uma mulher que é excepcional como esposa, como mãe, como profissional. Para mim, o grande afrodisíaco da vida é admiração. Isso eu tenho muito por ela”, disse Herbert recentemente, em entrevista à revista Marie Claire.

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Revista Istoé Gente, edição número 158, de 12 de agosto de 2002

“A cabeça do malandro aqui voltou a ter um mínimo operacional.” E a platéia chorou, vibrou e aplaudiu a volta dos Paralamas.

Quem se emocionou ao assistir à volta dos Paralamas do Sucesso ao palco, numa participação especial no show da banda Reggae B, na terça-feira, 30, no Rio, pode se preparar para ver a cena cada vez com mais freqüência. Um ano e meio após o acidente de ultraleve que matou sua mulher, Lucy Needham, e o deixou entre a vida e a morte, o cantor e compositor Herbert Vianna, 40 anos, vem mostrando uma recuperação acima das expectativas dos médicos. Apesar de persistir a dúvida sobre a possibilidade de o cantor se recuperar totalmente do traumatismo na medula que o deixou paralítico, ele já consegue mexer a perna direita, e não há dúvidas sobre a plena recuperação do líder dos Paralamas em relação às lesões cerebrais. “Herbert está pronto para retomar a vida normalmente. Meus encontros com ele hoje são quase sociais”, diz o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, que acompanha o tratamento do líder dos Paralamas e, hoje, só precisa ver o paciente de três em três meses.
Motivado pela recuperação e sem esconder o ânimo com a retomada da carreira, Herbert aumentou as aparições nos últimos dois meses. No dia 11 de junho, tocou em público pela primeira vez, durante o show do colega argentino Fito Paez, no Canecão, no Rio. Duas semanas antes do reencontro com os parceiros de banda Bi Ribeiro e João Barone, no Ballroom, o guitarrista dos Paralamas subiu no mesmo palco, para uma participação especial no show da banda Reggae B, do companheiro Bi, que contou ainda com a canja de Lulu Santos. Em meio a tudo isso, gravou o novo disco dos Paralamas do Sucesso e fez viagens a São Paulo, nas últimas quatro semanas, para acompanhar a mixagem do CD, que terá o nome de Longo Caminho e será lançado em outubro, pela EMI. Aos parentes e amigos, tem repetido uma frase que marca a nova fase de sua vida: “Estou me reconstruindo”.
Para completar a reconstrução almejada, o cantor não tem medido esforços. Diariamente, faz duas horas de exercícios pela manhã, alternando-se em três tipos de fisioterapia: a hidroterapia, feita na piscina aquecida de um clube, onde é estimulado a caminhar com pesos nas pernas; a terapia ocupacional, realizada em casa, onde Herbert se acostuma a fazer todas as atividades da rotina diária, desde trocar de roupa a passar da cadeira de rodas para a cama, por exemplo; e a cinesioterapia, num miniginásio montado dentro de sua casa, em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio, onde o músico se exercita num aparelho semelhante às barras paralelas da ginástica olímpica. Ele caminha apoiado nas mãos e impulsiona as pernas com o quadril.
Acompanhado por um fisioterapeuta em cada exercício, Herbert já dispensa os enfermeiros e toda a estrutura hospitalar montada em sua casa logo após o acidente. No dia-a-dia, tem a ajuda de apenas um acompanhante. A boa performance na fisioterapia, porém, não é uma garantia de que o cantor conseguirá voltar a andar. “Os exercícios servem para que ele retome o equilíbrio e possa se reacostumar a andar rapidamente, caso se recupere da lesão da medula”, explica o médico fisiatra Luiz Alexandre Catanhede, que coordena a equipe de fisioterapeutas responsável pelo tratamento de Herbert.
Segundo Alexandre, quanto mais tempo passar do acidente, menores serão as chances de o músico voltar a caminhar. “O prazo para saber se um paciente com a medula lesionada poderá andar costuma ser de até três anos após a lesão. Se ele não se recuperar nesse tempo, dificilmente conseguirá depois”, explica o médico. O último grande avanço de Herbert foi há cerca de dois meses, quando o cantor, deitado na cama, conseguiu dobrar a perna direita num ângulo de 30 graus. Catanhede não arrisca prognósticos, mas garante que seu paciente está preparado para o que acontecer. “Ele tem esperança de andar novamente, mas sabe que pode continuar a levar uma vida normal se isso não acontecer”, resume o médico.
A dúvida sobre as chances de voltar a andar não tira de Herbert a alegria que a música vem lhe proporcionando. A família e os médicos, aliás, acreditam que a vontade de tocar guitarra, violão e até o piano de sua casa tem sido fundamental na recuperação do líder dos Paralamas. “Quando meu filho está travestido de músico, ganha outra energia, tem atitudes seguras. É muito importante que ele retome a carreira”, diz o brigadeiro Hermano Vianna, pai do compositor. Com a experiência de quem acompanhou o parceiro na gravação do novo CD dos Paralamas, o baterista João Barone já avisou a amigos que quem quiser saber como o guitarrista da banda está ficará muito surpreso ao vê-lo em ação.
Outro amigo de Herbert, o músico Leoni, faz coro. “Ele está eufórico em constatar que se lembra de todo o repertório que compôs antes do acidente. Quando fala de música, a memória dele funciona perfeitamente”, conta o ex-integrante do Kid Abelha. O último contato com o amigo foi há um mês, quando Herbert telefonou de São Paulo para felicitar Leoni pelo lançamento de seu disco solo.
Segundo Hermano Vianna, a memória do filho está praticamente recuperada, resta apenas um lapso referente a cerca de dois meses antes e depois do acidente ocorrido no dia 4 de fevereiro, em Mangaratiba, no litoral sul do Rio de Janeiro. Além da retomada da carreira, o compositor tem se dedicado a atividades de rotina, como buscar no colégio os filhos Luca, 9, Hope, 6, e Phoebe, 3. Antes avesso a computadores, Herbert agora gasta um tempo de seu dia navegando na internet e trocando e-mails com amigos. Apesar de todo o entusiasmo com a nova fase, o músico ainda não superou a tristeza pela perda da mulher. “Ele sempre diz que está de luto pela morte da Lucy”, conta Hermano.
Além de ver o filho recuperado, o pai de Herbert também sonha em vê-lo voando de ultraleve novamente. Embora o assunto não seja freqüente nas conversas entre eles, Hermano diz que a possibilidade já foi cogitada pelos dois. “Seria ótimo, porque foi por causa dos vôos que me tornei mais próximo do meu filho.” Se depender do mecânico que sempre cuidou dos ultraleves do líder dos Paralamas, o sonho tem tudo para se realizar. “Vamos tentar fazer uma adaptação no avião para que o Herbert possa pilotar. Ele sente muita saudade disso”, disse Valdir Lacerda, que esteve com o cliente mais famoso há dois meses.
Antes de voltar a voar, porém, o músico terá muito trabalho pela frente. Além do lançamento do novo disco dos Paralamas em outubro, a banda deverá fazer alguns shows em novembro ou dezembro. Empresário do grupo, José Fortes já começou a se reunir com representantes da gravadora para traçar a estratégia de marketing para o primeiro CD gravado por Herbert e seus parceiros após o acidente. “Estamos avaliando a possibilidade de um pequeno show para convidados quando lançarmos o disco”, diz o empresário. Ainda este mês, a música Calibre, que o líder dos Paralamas começou a compor antes da tragédia e concluiu depois, começará a ser tocada nas rádios. Já os ensaios para os shows terão início na próxima semana, primeiro na casa de Herbert e depois num estúdio maior, a ser escolhido.
Provavelmente, o clima dos ensaios será parecido com o que foi visto no Ballroom, no reencontro dos Paralamas. Animado com seu retorno, Herbert mostrou a disposição do início de carreira. Totalmente à vontade, o cantor cumpriu o ritual de aquecimento antes do show e abusou do bom humor puxando o coro de músicas repletas de palavrões. “Ele está com ótimo astral. Durante sua apresentação, olhava para seus amigos como se dissesse: ‘Estou de volta’”, conta George Israel, integrante do Kid Abelha que estava no show. Levado ao palco na cadeira de rodas pelo músico Dado Villa-Lobos, o líder da banda emocionou a platéia cantando sucessos como A Novidade e Meu Erro. Herbert admitiu ter sentido pequenas tonturas no palco, mas disse que se achava pronto para tocar. Lá, no palco, diante de fãs emocionados e ao lado dos amigos, resumiu o que sentia ao apresentar a música Calibre durante a apresentação: “A cabeça do malandro aqui voltou a ter um mínimo operacional.” E a platéia chorou, vibrou e aplaudiu a volta dos Paralamas.