sábado, 20 de outubro de 2012

MOÇA DA CAPA - A MOCINHA

Depois do último capítulo, ontem, Avenida Brasil já pode ser considerada, talvez, quem sabe, a melhor novela da história da tevê. E a mocinha da história já era capa da revista na época da entrevista. Chegou pontualmente à salinha de imprensa do Projac e, no fim, depois de uns quarenta, no máximo cinquenta minutos, deu até o número do celular para tirar qualquer dúvida. E claro que, três dias depois, o repórter ligou com alguma dúvida besta. E claro que ela não atendeu.

Abaixo, a matéria. As fotos são do Edu Lopes.

Revista Istoé Gente, edição 277, de 29 de novembro de 2004

“Tinha preguiça e achava que tinha medo de dirigir. Mas decidi tirar carteira depois de dois anos de táxi e carona”

Nas ruas, ela quase nunca ouve o próprio nome quando é abordada. Alguns a chamam de Maria Eduarda, a romântica menina rica de Senhora do Destino. Outros lembram da Mel, a sofrida viciada de O Clone. Mas são poucos os que identificam a atriz Débora Falabella como intérprete desses personagens. E ela adora que seja assim. “Não tenho interesse em que saibam que sou a Débora Falabella”, diz a atriz, antes de revelar que talvez mude de idéia quando estiver “com uns 70 e tantos anos”. Hoje, aos 25, protagonista de filmes como Lisbela e o Prisioneiro e A Dona da História – que juntos levaram mais de 4 milhões espectadores aos cinemas – prefere ser reconhecida por seus personagens.
A atitude combina com o discreto charme de Débora. Figura rara na noite, ela preserva ao máximo sua privacidade. Conseguiu, por exemplo, manter longe dos holofotes o início, o meio e o fim do namoro de três anos com o ator Daniel Oliveira, que acabou no ano passado. “Falamos da maneira mais simples: acabou e pronto. Foi tudo muito tranqüilo, sem brigas, e hoje continuamos amigos”, resume.
Do novo namorado, o músico paulista Eduardo Hipólito, 26, Débora revela o mínimo. Eles estão juntos há quatro meses e, além de fazer parte da banda de rock Forgotten Boys, Eduardo estuda gastronomia. “Deixo ele cozinhar pra mim”, diverte-se a atriz.
Outra curiosidade: Débora adora “passear numa farmácia” e não dispensa um remedinho para curar qualquer mal-estar. “Sempre fui um pouquinho hipocondríaca. Não sou dessas naturebas que não tomam remédio”, revela ela, que não deixa faltar nada em sua caixinha de medicamentos. Os cuidados com a saúde foram reforçados após a meningite que a deixou uma semana no hospital, quando fazia a Mel em O Clone, há dois anos. Não foi o tipo bacteriano da doença, considerado mais grave, mas assustou a atriz. Hoje, ela cuida melhor da alimentação e pega mais leve. “Ficava gravando o dia inteiro, cenas fortes, e às vezes esquecia de comer. Agora levo comida de casa e me alimento nas horas certas”, diz ela. Na época, foi substituída em cena por sua irmã Cíntia, 31 anos, que também é atriz. “Nosso pai (Rogério Falabella) é ator. Acho que ele foi a grande inspiração”, diz ela. A mãe, Maria Olímpia, é cantora lírica.  
Débora é a filha temporã – Maria Olímpia engravidou, sem querer, aos 39 anos. Era um bebê inquieto, custava a dormir, chorava muito. Ela sempre foi a mais tímida das três irmãs (Júnia, 35, é publicitária) e na infância criou um elo forte com Cíntia. “Quando a Débora tinha uns 11, 12 anos, elas brincavam de teatro com uma câmera de vídeo, tenho esses filmes até hoje”, diz Maria Olímpia. Em família, é extrovertida e criou um personagem, o Nojinho, que fala engraçado, como um menino meio alienado. “De vez em quando ela faz esse personagem, a Cíntia faz outro e é uma palhaçada. É engraçado, o pai delas adora, morre de rir.”   Mineira, há quatro anos no Rio, a atriz tirou carteira de motorista recentemente. Em Belo Horizonte, tinha um inexplicável medo de dirigir. Após dois anos no Rio, rendeu-se à necessidade de um carro. “Tinha preguiça e achava que tinha medo de dirigir. Mas decidi tirar carteira depois de dois anos de táxi e carona”, conta.
Hoje em dia, Débora não passa sem carro, mesmo que seu trajeto não saia muito do trivial casa–trabalho, talvez porque a atriz não tenha muitos amigos na cidade onde mora. “Não sei se é porque nas novelas a gente acaba não fazendo amizades duradouras. É difícil, as pessoas se tornam colegas de trabalho e depois vai cada um para o seu lado”, especula a atriz, cujo círculo de amigos próximos permanece quase o mesmo da época em que começou no teatro, há 9 anos, em Belo Horizonte. É lá que Débora costuma badalar um pouco mais à noite. Deixa o lado caseiro do Rio de lado, mas sem exageros. “Saio muito com as amigas para jantar e para ir na casa delas”, diz.
A única grande amizade que Débora fez no Rio, quando atuava em Agora É Que São Elas, no ano passado, é de São Paulo, onde também mora boa parte de sua turma mineira. Colega da atriz na antiga novela das seis, Francisca Queiróz, 25, confirma o jeito quieto da amiga. “A gente costuma se encontrar na minha casa ou na dela, para conversar e assistir filmes. É um estilo de vida que compartilhamos”, diz Francisca.
No trabalho, porém, Débora adota uma postura bem menos reservada. Para produzir Noites Brancas, peça baseada no texto de Dostoiévski, em cartaz em São Paulo, ela bateu de porta em porta nas empresas atrás de patrocínio. No início de 2003, em plena virada de governo, ouviu “não” várias vezes, quase desistiu, mas conseguiu levar a história ao palco com dinheiro do próprio bolso. “Tinha feito um comercial e juntei esse dinheiro com uma parte do que já estava economizando para comprar uma apartamento no Rio. Já estávamos ensaiando há um bom tempo. Ia ser muito frustrante parar”, explica ela, que acabou de comprar um apartamento, mas não revela quanto investiu no espetáculo.
Para produzir a peça em que atua, Débora se associou ao seu empresário, Roberto Monteiro, e à Odeon, uma companhia de Belo Horizonte. Foi a maneira que a atriz encontrou para fazer um personagem da sua escolha, embora pareça que ela tenha selecionado a dedo seus últimos papéis. No cinema, além de Lisbela e de Paco, que lhe rendeu elogios por sua atuação em Dois Perdidos numa Noite Suja, de José Joffily, Débora realizou o sonho de contracenar com Marieta Severo em A Dona da História. “É até engraçado falar, mas ela era minha referência mesmo. Toda vez que alguém me pedia para citar uma atriz eu falava Marieta Severo”, conta.
Para viverem a mesma personagem, elas ensaiaram juntas durante dois meses. No início, Débora ficou nervosa, a ponto de gaguejar de vez em quando e não ficar tão à vontade como deveria. Mas isso foi só na primeira semana de trabalho e, pelo visto, Marieta nem percebeu. “Não vi nada disso. Só não sabia se encontraria uma jovem preguiçosa ou disposta. Tive a grata surpresa de ver que a Débora trabalha com bom humor e encara a profissão com seriedade”, afirma Marieta. Está aí a receita do sucesso da jovem atriz.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O MOCINHO

Prestes a terminar, Avenida Brasil já é uma das melhores novelas da história da tevê. E o galã da história, hoje mais que consolidado como bom ator, tava só começando na época da entrevista. Atuava em sua primeira novela. Tranquilo, despreocupado, com uma namorada linda dormindo logo ali, no quarto ao lado, ele contou coisa à beça debaixo do sol da manhã, no pátio de uma cobertura do Recreio. O resultado tá aí embaixo.

Revista Istoé Gente, edição 237, de 23 de fevereiro de 2004

“Dormimos sentados, um encostado no outro, pra ninguém tocar na gente.”

Antes de estrear na Globo, no início de 2002, como o Mau-Mau de Malhação, Cauã Reymond, 23 anos, até fez um curso de interpretação em tevê. E pronto. Acaba aí qualquer semelhança na trajetória do namorado de Alinne Moraes com o caminho percorrido pela maioria de seus colegas. De campeão de jiu-jítsu, passou a modelo internacional aos 18 anos. Morou em Milão, Paris e Nova York, onde decidiu trocar de profissão. Enquanto enfrentava as dificuldades comuns aos latinos na maior cidade americana, incluindo aí dois dias passados na cela de uma cadeia, ao lado de criminosos, começou a estudar para ser ator. Hoje, interpretando o personagem Thor em Da Cor do Pecado, sua primeira novela, e após estrear no cinema em Odiquê, de Felipe Joffily, ele se diverte ao lembrar de tudo o que passou para se firmar na nova carreira.
O atual papel lhe reservou um ponto em comum com o início de tudo: Thor é um lutador profissional. A diferença é que, ao contrário do jiu-jítsu praticado pelo ator desde os 13 anos, as lutas da novela são mais parecidas com o kung fu. Para se adaptar, Cauã fez aulas da arte marcial durante um mês, o que não evitou algumas escoriações decorrentes dos treinos e gravações. “Já machuquei as duas mãos dando socos no saco de boxe”, conta o catarinense de Camboriú.
Bicampeão brasileiro de jiu-jítsu, aos 17 e 18 anos, Cauã entrou na carreira artística através do esporte. Em 1997, a Company, loja que o patrocinava, contratou a então modelo iniciante Ana Hickmann para estrelar uma campanha publicitária à frente de atletas financiados pela marca. Aprovado num teste, o lutador estreou como modelo. O problema era disfarçar as marcas adquiridas nas competições que continuou a disputar. “Lutar me mantinha com o pé no chão”, afirma.
O jiu-jítsu só foi abandonado em 1999, quando o modelo morou seis meses em Milão. A carreira ia bem e, após uma rápida volta ao Brasil, passou mais seis meses na Europa, dessa vez em Paris. Em 2000, mudou-se para Nova York e foi lá que começou a se sentir desconfortável na profissão. “O mercado passou a preferir aqueles tipos ingleses com cabelinho chanel, em vez dos caras mais sarados. Não estava pra mim”, recorda.
O jeito foi tentar ser ator. Para isso, Cauã contou com a sorte de, logo no primeiro teste, agradar à atriz Susan Batson, famosa por treinar Nicole Kidman e Tom Cruise. “A Susan me deu um monólogo e me mandou ler para a parede. Nem sei direito o que falei, mas ela amou. Disse que eu era um Marlon Brandon latino”, conta o ator, que arrumou ali um motivo a mais para freqüentar o curso. “Tinha acabado de terminar um namoro. Precisava ouvir elogios”, brinca.
Dois meses depois, a falta de dinheiro o fez voltar ao Brasil, mas uma conversa com o pai, o psicólogo José Marques, o ajudou a mudar de idéia. “Senti que Nova York seria bom para o Cauã. Ele estava progredindo lá”, diz Marques. Com US$ 600, o ator voltou, e de imediato participou de um workshop com o cineasta Spike Lee, que lhe fez um elogio e um alerta. “Ele disse que eu tinha energia sexual, mas era muito teatral”, diz.
A experiência mais marcante do ator nos EUA, porém, seria a mesma de milhões de pessoas. “Estava entrando num ônibus quando vi o segundo avião atingir a torre do World Trade Center. Acho que foi a cena mais impressionante que vi na vida, mas não sei descrever o que senti, até porque naquele momento não estava entendendo nada do que estava acontecendo”, conta ele. Na época, a falta de dinheiro tinha levado Cauã a dividir um apartamento com um árabe no bairro Spanish Harlem, o que o deixou ainda mais apreensivo após o atentado de 11 de setembro. “Dormia com uma faca embaixo do travesseiro”, lembra.
Mas foi ao lado de um amigo brasileiro que a dificuldade de ser estrangeiro em Nova York ficou mais evidente. Numa farmácia, o ator tentou convencer o amigo a não roubar uma barra de proteína. Descobertos pela segurança, os dois acabaram detidos porque estavam sem passaporte. Passaram dois dias numa cela com 20 presos até resolverem a situação pagando uma fiança de US$ 100 cada. “Dormimos sentados, um encostado no outro, pra ninguém tocar na gente.”
As dificuldades continuaram até a volta definitiva ao Brasil, no fim de 2001. Mesmo elogiado por professores como o cubano Carlos Leon, ex-marido de Madonna, ele não quis esperar a chance de iniciar a carreira no exterior. “O mercado estava mais para os americanos, e já tinha o Antonio Banderas”, diz.
Há um ano e meio no Rio de Janeiro, Cauã mora com Alinne Moraes no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste da cidade. A afinidade entre o casal é o segredo para lidar com o assédio que a beleza de ambos provoca. “Gosto de ver minha mulher o mais bonita possível. A Alinne tem noção do ridículo. Não vai sair com os peitos pulando para fora da roupa e sabe lidar com cantadas. Por isso ela é minha mulher”, afirma. Assim, brigas sérias por causa de ciúme passam longe do casal. “Tenho o ciúme normal, que existe em qualquer relacionamento, mas nunca precisei brigar com ninguém porque o Cauã se dá ao respeito”, diz Alinne. “Adoro que ele seja admirado, mesmo porque estou com ele não só porque o amo, mas porque ele é inteligente e desejado.”