terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

SILVIO SANTOS VEM AÍ

Foram seis carnavais, de 2000 a 2005, seis anos de um esquema insano de trabalho, do começo ao fim nos dois dias de desfile, indo dormir lá pelas sete, oito da manhã e acordando, no máximo, às duas da tarde, pra varar a madrugada num fechamento tocado por São Paulo. Desse tempo ficou o que se pode chamar, talvez, de um trauma, o fim da mais ínfima necessidade, pra todo o sempre, de passar perto do Sambódromo durante o carnaval. Mas ficou também, é preciso reconhecer, a sensação de ter visto o suficiente de algo que é obrigatório, ao menos uma vez, presenciar, porque a credencial era de trânsito livre, só não valia pra passarela propriamente dita, e com ela pode-se sentir de perto, na concentração, o esquenta e a entrada da bateria, de todas elas em seis anos.

Entre notinhas de fofocas, na mesmice da empolgação do início e da certeza do título ao fim, a matéria abaixo foi o que de mais substancial pode-se extrair do trabalho de escravo deste repórter nada carnavalesco nos dias de folia.

Revista Istoé Gente, edição 83, de 5 de março de 2001

“Não preciso de escada, sou garotão”.

A rotina foi quebrada no barracão da escola Tradição, na zona portuária do Rio, na noite de sábado 24. De um Passat cinza, desembarcou ali às 23h o empresário Silvio Santos. Com motorista e seguranças, foi conhecer o carro abre-alas em que desfilaria no domingo 25, na Marquês de Sapucaí, pela escola que o escolheu como enredo.
Vinte minutos bastaram para que se emocionasse. “Não mereço tudo isso”, disse para o carnavalesco Orlando Júnior. As arquibancadas e camarotes do sambódromo provaram o contrário. Do alto do carro alegórico “O Homem do Baú”, o apresentador deu seu show particular, transformando as arquibancadas num gigantesco auditório.
O domingo foi duplamente inédito. O dono do SBT jamais havia subido num carro alegórico. E nunca fizera seu programa, com colegas de trabalho, ao vivo pela Rede Globo. Com o samba na ponta da língua, parecia estar na tevê. Distribuiu sorrisos e acenou para 80 mil pessoas em 80 minutos de desfile.
A chegada de Silvio foi tumultuada devido ao assédio da imprensa e do público. Cerca de 30 seguranças conduziram-no do Passat cinza com que chegou à avenida até o Juizado de Menores, perto da concentração das escolas, onde esperou pelo início do desfile.
Lá, posou para dois fotógrafos, ao lado de Hebe Camargo e Gugu Liberato, também destaques na Tradição. “Agora estou entregue a vocês. Façam o que quiserem”, disse o apresentador a uma diretora da Tradição. Levado para a concentração, Silvio não esperou pela escada para subir no carro. “Não preciso de escada, sou garotão”, disse.
Foi numa conversa em julho do ano passado que Silvio Santos e o presidente da Tradição, Nésio Nascimento, selaram uma parceria que começou a se formar há quatro anos. Escolhido para ser homenageado, Silvio ouviu Nésio pedir sugestões para o desfile.
A resposta mostrou que agradá-lo não seria difícil. “Cada um sabe fazer bem o seu papel. Façam o desfile que eu faço meus programas.” Desde a escolha do samba, em outubro, a Tradição ganhou inserções diárias de 2 minutos e 35 segundos. Nos meses que antecederam o Carnaval, foram dez inserções diárias durante a semana e 20 aos domingos. Os integrantes da escola estiveram em todos os programas de auditório do SBT, que bancou passagens e hospedagem para 30 componentes.
Silvio foi fundamental para reunir seus colegas de trabalho para o desfile. De Gugu Liberato a Hebe Camargo, passando por Ratinho, Babi e Carla Perez, todos desfilaram. “Fui convidada pelo Silvio, através do Gugu, e não poderia faltar a essa homenagem”, disse Hebe, fantasiada de colombina estilizada. Carlos Massa, o Ratinho, estava agitado e confessou que quase desistiu de subir no carro alegórico. “Me caguei de medo de subir ali”, disse.
Gugu presenteou Silvio com o figurino que o empresário desfilou: um terno de shantung Dior prata fosco – tecido que custa R$ 300 o metro –, desenhado pela figurinista particular de Gugu, Márcia Maia. Foi com ele que Silvio brilhou no carnaval transmitido com exclusividade pela emissora de Roberto Marinho. “Já estava em tempo essa homenagem ao Silvio”, disse o apresentador do Domingo Legal.