Até que veio o porteiro e entregou aquele pedaço de papel com o número de um celular e um nome do lado: José Emir.
Por sorte, a dívida com as multas era menor do que deveria ser, coisa de quinhentos e poucos reais, e o José Emir mostrou ser um sujeito sensato, honesto, que compreendeu perfeitamente as peripécias de um jovem de vinte e poucos anos, que economizou pra comprar o primeiro carro, o gurgelzinho X12, e só seis meses após a compra percebeu que jamais conseguiria botar o Gurgel em seu nome.
E tudo ficou ainda melhor quando, naquele agradável fim de tarde no Cento e Onze do Cem, nós dois confortavelmente acomodados na varandinha fechada do apartamento, em cadeiras da década de 50, com uma outra mola arrebentada, em frente à mesinha com tampo de mármore, carcomida pela ferrugem, o grande Zé Emir disse que até estava pensando em comprar um carro como o meu, ou dele ainda, ou nosso.O negócio foi fechado ali, na hora, e todos ficaram felizes. De um lado, um cara de vinte e tantos anos que jamais conseguiria regularizar seu carro, vendendo o Gurgel para o único sujeito que jamais teria problemas de documentação com o veículo; e do outro lado esse mesmo sujeito, que finalmente conseguia se livrar das multas injustas em seu nome, e ainda por cima tinha adquirido um carro por módicos dois mil reais, ou mil e oitocentos, com o desconto do IPVA atrasado.
E assim terminava uma época da vida, um período tão desprovido de preocupações de verdade que até tempo pra batizar carro havia, se bem que essa história de dar nome a um veículo automotor continuou ainda por alguns anos, porque depois de Honório, o Gurgel, veio Bóris, o Niva. Mas isso é uma outra história.