quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

AGRURAS, REGIMES E PRAZERES DO CINEASTA SEXAGENÁRIO

A entrevista pra matéria abaixo foi feita no escritório onde trabalhava, na ocasião, o cineasta autor de Bye Bye Brasil, no começo da subida da Gávea. 

Revista Istoé Gente, edição 189, de 17 de março de 2003

"Odeio roteiro, mas o Cacá fez uma cara tão ansiosa quando veio me pedir para escrever que achei que ia me pedir um rim".


No primeiro semestre de 2002, o cineasta Carlos Diegues, 62 anos, subia uma cachoeira no Jalapão, interior do Tocantins, buscando locações para rodar o filme Deus é Brasileiro. Com esforço, chegou ao topo, mas sentiu uma falta de ar que chamou a atenção dos guias que o acompanhavam. “Ouvi um dizendo baixinho para o outro: ‘Segura o diretor que ele não vai agüentar’. Vi que tinha de emagrecer para filmar”, lembra Cacá. Quinze quilos mais magro, hoje Cacá comemora o sucesso do filme que, desde o lançamento, há um mês e meio ultrapassou 1,2 milhão de espectadores.
Para encarar os dois meses de filmagens e os 18 mil quilômetros rodados em Alagoas, Pernambuco e Tocantins, Cacá se entregou a um regime com o nutricionista José Carlos Cabral e perdeu peso em quatro meses. “Costurei a boca.” Ele ficou à base de carne branca e salada. Quando começaram as filmagens, em outubro de 2002, já estava magro. Agora mantém o peso.
E era preciso mesmo boa forma para filmar em locais como o deserto do Jalapão, onde a equipe acampou por dois dias, a 120 quilômetros do posto de gasolina mais próximo. Nem todos os desafios para fazer Deus é Brasileiro, porém, foram longe de casa. No Rio de Janeiro, onde mora, o cineasta teve de dobrar a conhecida ojeriza do escritor João Ubaldo Ribeiro por escrever roteiros e conseguir a colaboração do autor de O Santo Que Não Acreditava em Deus, conto que inspirou o filme.
Amigo do diretor há 40 anos, Ubaldo escreveu com Cacá a primeira versão. “Odeio roteiro, mas o Cacá fez uma cara tão ansiosa quando veio me pedir para escrever que achei que ia me pedir um rim. Quando soube o que ele queria, aceitei. Diante de um rim, um roteiro não é nada”, diz o escritor.
Com 16 longas-metragens no currículo, Cacá ainda não pensou num próximo projeto, mas demonstra preocupação quanto ao futuro do cinema nacional depois que a Petrobrás interrompeu sua participação como patrocinadora. “Teremos um ótimo 2003, com O Homem do Ano, Lisbela e o Prisioneiro e outros filmes produzidos ano passado. Mas corremos o risco de um 2004 sem nada”, alerta o cineasta, que aposta na consolidação da Ancine (Agência Nacional de Cinema) e do Conselho Superior de Cinema, criados no ano passado para não deixar a produção parar.
O que Cacá não quer é a volta dos tempos da Era Collor, quando teve de se virar para driblar o fim da produção cinematográfica no País. “Fiz publicidade, e como não era estrela na área, o que sobrava para mim era a coisa mais vagabunda”, conta. “Cheguei a mostrar um rolinho do que fazia aos meus filhos e disse: ‘Olha o que estou fazendo para sustentar essa casa’. Faria de novo se precisasse. Trabalho nunca é humilhante.”
Casado com a produtora Renata Magalhães, com quem teve Flora, 16, Cacá é padrasto de Júlia, 23, e pai de Isabel, 32, e Francisco, 30, do casamento com a cantora Nara Leão. Há nove meses, com o nascimento do primeiro neto, José Pedro, filho de Isabel com o jornalista Pedro Bial, ele estreou na função de avô. “Ele é lindo, inteligente, gosta de puxar minha barba. É uma mistura do alemão do Bial com o alagoano dos Diegues.” Ele vê o neto pelo menos uma vez por semana. “Se a criança chorar vai para o pai, se fizer cocô vai para a mãe. Você fica só com o lado divertido”, diz o avô coruja.