domingo, 24 de julho de 2016

O DOZE

A matéria era com ele e mais quatro escritores, tudo pra ser apurado em dois dias dentro da Bienal do Livro, entrevistando ou assistindo a palestras, debates, o que mais desse. O combinado era um texto curto de cada um, publicado ao lado do quadrinho que os editores adoravam, com o tatibitati das informações topificadas, no caso a idade do escritor, a bibliografia, o último lançamento, o gênero de sua obra e o faturamento estimado. A conversa com o cara pro textinho curto aí embaixo então foi rápida, no meio de uma sessão de autógrafos no estande lotado da editora, e por isso a melhor história relacionada a ele, ainda que particular, da vida pessoal do repórter, só foi percebida depois, com a leitura de outra entrevista, ou do principal livro dele, Trilogia Suja de Havana, ou algum programa na tevê.

Não dá pra lembrar direito, não dá pra saber quando veio a informação, dita pelo próprio, de que o escritor Pedro Juan Gutierréz, antes de começar a publicar, costumava abordar turistas estrangeiros recém saídos do aeroporto oferecendo moedas velhas com imagens de líderes revolucionários cubanos por um dólar cada, e que fazia isso com certa frequência ali pelo fim dos anos noventa, exatamente na época da viagem de quatro brasileños a Cuba que inspirou o primeiro texto deste blog que vai chegando perto do ponto final.

Na van do traslado acertado, na primeira parada do itinerário de três ou quatro hotéis até o nosso, apareceu por inteira, bem perto da gente, a cabeça branca, absolutamente pelada do sujeito que apontava a moedinha dizendo Che, exibia outra falando Fidel, Fidel, e repetia o preço em inglês, one dólar, one dólar. Surgiu do nada, abrupto, o que fez o nobre guevarista, ou o alquimista de origem germânica, ou mesmo o boleiro calvo mencionar Bruce Willis no filme Doze Macacos, saído do futuro para o meio de uma batalha do século dezessete ou dezoito, no máximo dezenove. E foi assim que surgiu o apelido do primeiro personagem da viagem entre os nativos de Cuba libre, para que três, quatro anos depois o repórter viesse a descobrir que sim, só podia ser: Pedro Juan Gutierréz era o Doze.

Revista Istoé Gente, edição 95, de 28 de maio de 2001

"Sou um animal tropical".

Ele não dispensa um bom charuto, confessa que a bebida é outro de seus prazeres e garante que convive bem com o regime de Fidel Castro. O escritor Pedro Juan Gutiérrez fez de seu carisma uma das armas para se tornar um dos principais nomes da literatura cubana atual. Com dois livros lançados recentemente no Brasil, pela Companhia das Letras, Gutiérrez fez sucesso retratando a realidade de Havana, a cidade onde nasceu e mora até hoje.
Casado com a microbióloga Amarillis e pai de quatro filhos, o mais velho de 24 anos e a mais nova de dois meses, Pedro Juan nada no mar do Malecon e também anda de bicicleta quando não está escrevendo. Apesar de seus livros serem editados na Espanha, o que, garante ele, não significa que seja censurado em Cuba, o escritor não pensa em sair de seu país. "Sou um animal tropical", justifica.