quinta-feira, 5 de março de 2015

FOI-SE

Qual a melhor fantasia de Heidi Klum, a rainha das festas de halloween?
Cleópatra, de 2012, Mulher anatomia, de 2011, ou Vovó, de 2013?

A enquete acima estampa agora, no momento em que isso aqui está sendo escrito, a capa do site da revista Istoé Gente, e explica em boa parte, na modesta opinião de quem por lá trabalhou por quase seis anos, desde a equipe inaugural, o fim da revista anunciado oficialmente anteontem pela Editora Três, empresa, aliás, contra a qual este Relatos não tem queixa alguma, muito pelo contrário.

A lamentar, sem dúvida, o fim da Istoé Gente, ainda mais por quem acompanhou de perto o embate até rápido demais entre uma ótima ideia e o lugar comum, desde o início com força total para a ótima ideia, o projeto original, até a terceira edição, quando a matéria diferente, do dia-a-dia de nossa vida cotidiana, com gente comum, concorreu à capa e perdeu para a separação de Adriane Galisteu e Roberto Justus.

Mesmo assim, até dar na enquete que abre o texto, a boa idéia resistiu um bom tempo na revista, às vezes com menos outras com mais espaço, mas resistiu, e por isso é obrigatório, nesse momento de adeus, registrar o agradecimento pra toda vida por tudo o que a saudosa revista Istoé Gente proporcionou ao autor deste blog, do céu estrelado no meio do nada, no sertão do Piauí, ao concerto com o presidente em Varsóvia; do samba de roda no quintal de Dona Canô às demais entrevistas e matérias responsáveis por pelo menos setenta por cento da produção deste Relatos, que é, basicamente, um currículo, currículo de repórter.

A propósito: não sei quem é Heidi Klum, mas pela foto dela no site, voto na Mulher anatomia.

A matéria abaixo saiu mesmo na Istoé Gente, envergonhadinha, com pouco espaço para o texto, mas saiu, inclusive a foto, do Kiko Cabral.

Revista Istoé Gente, edição 28, de 14 de fevereiro de 2000 

Num acesso de fúria, Domingos matou sete pessoas, das quais seis pertenciam à família de sua ex-mulher.

Ricardo, 21, Fábio, 20, Fernanda, 17, Fernando e Cristina, 16, Bruno, 15, Cristiano, 13, Cássia e Tiago, 12, Bárbara, 11, Priscila, 10, Cíntia, 8, Edilson, 7, Cássio e Larissa, 4, Brenda, 3, e Otávio, 1, passaram a compartilhar uma história em comum em suas vidas. Os 17 tiveram seus destinos selados no último dia 31 pelo camelô Domingos Amorim Pinto, 40. Tornaram-se órfãos da chacina feita por ele na noite de segunda-feira, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Num acesso de fúria, Domingos matou sete pessoas, das quais seis pertenciam à família de sua ex-mulher, Marilene Fernandes Soares de Lima, 34, com quem tinha uma filha, Priscila, com 10 anos, e tentou a reconciliação dias antes da tragédia. No dia seguinte, os 17 receberam uma nova mãe. Sobrevivente da chacina, a tia Mariléia Fernandes Soares, 29 anos, dona-de-casa e mãe de dois filhos, anunciou que irá criá-los.
Além da ex-mulher, Domingos assassinou duas ex-cunhadas, Tânia Regina Fernandes Soares, 41, e Marina Fernandes Soares de Lima, 38. Matou, em seguida, a ex-sogra Teresa Fernandes Soares, 68, e o ex-concunhado Luiz Ederaldo Alves Martins, 41. Seguiu para a casa do cunhado de Marina, José Ferreira de Lima, 38, e matou ele e o vizinho da família, João Batista Mendes de Souza, 22. Não satisfeito, Domingos partiu para Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em busca de mais vítimas. Lá, Mariléia foi acordada por gritos que vinham do lado de fora de sua casa. Ainda sem entender o que estava acontecendo, ela foi até a janela e avistou o ex-cunhado de revólver em punho. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Mariléia teve de se proteger dos tiros que o camelô começou a disparar. Ela entrou em casa, gritou pelo marido, o supervisor do cais do porto Flávio Fernandes Soares, 30, e mandou que os dois filhos, Jefferson, 8, e Joice, 4, deitassem no chão do quarto. Depois de atirar quatro vezes sem ferir ninguém, Domingos se afastou da casa e deu um tiro na própria cabeça. Ele chegou a ser internado em coma no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, mas morreu na noite do dia 2 de fevereiro.
A família Fernandes Soares pagou o preço pela separação de Domingos e Marilene. A ex-mulher do camelô, com quem vivia havia dez anos, o abandonou há quatro meses, acusando-o de assediar sua filha Cristina, 16 anos. Inconformado, o camelô tentou reatar várias vezes, até que decidiu se vingar não só de Marilene, mas de toda a família da ex-mulher. A atitude de Domingos surpreendeu a todos, principalmente Mariléia. "Ele era um sujeito tranqüilo, até brincalhão", conta a dona-de-casa, que chegou a ser namorada de Domingos quando tinha 16 anos. "Foi um caso passageiro, antes de ele conhecer minha irmã."
Dos 17 órfãos, apenas dois não são seus sobrinhos - Larissa e Otávio, filhos do vizinho assassinado. Ainda em estado de choque com a tragédia, Mariléia disse que cuidará dos órfãos. "Deus me deixou viver para que eu pudesse ajudar a criar essas crianças. Vou fazer o que puder", afirmou. Será ajudada pelos mais velhos, Fábio - balconista em um restaurante em São Gonçalo -, e Ricardo - que trabalha como jardineiro. A dona-de-casa ainda não decidiu se vai se mudar para o terreno de 300 metros quadrados no Arsenal, onde foram construídas as quatro casas dos parentes. Ela vive à custa do marido, que trabalha no cais do porto e não tem salário fixo. "Ele só ganha quando tem trabalho", explicou. Apesar do dinheiro escasso, Mariléia garante que nada vai faltar aos sobrinhos. "Não vou deixar que isso aconteça", assegura.