terça-feira, 17 de maio de 2016

BACK

A descida na ladeira em curva, rente à pedreira menor que a da sede anterior, porém mais bonita, era a penúltima. A última seria dali a quatro dias, na espera de sete, oito horas primeiro na redação sendo esvaziada, desligada, depois no corredor do RH, junto também com boa parte do pessoal da gráfica. O que já era esperado desde o anúncio da mudança, da venda do prédio antigo, histórico, tinha sido enfim anunciado, e no estacionamento de terra batida da sede em reforma, a passo de cágado, o diagramador das antigas, vítima da hecatombe que dizimara mais da metade da redação sete anos atrás, conversava com o tratador de imagem mais das antigas ainda, colega do derradeiro passaralho do jornal em 188 anos.

Foram onze anos, mais de uma década em que o repórter trabalhou como editor, sem assinar uma linha sequer de texto a não ser a página de abertura de suas editorias, pois assim passou a ser feito no jornal a partir de um determinado momento ainda no prédio antigo, ao redor da rotativa, e depois na sede nova em que as duas impressoras gigantescas, uma delas comprada há nem bem cinco anos, ocupavam o galpão em tijolo aparente, ao lado do qual subia a escada em concreto bruto, esfarelado no mesmo tom de cinza dos primeiros seis, sete passos até o corredor com o piso já colocado, bonito, caro, mas sem o acabamento dos rodapés, sem nada nas paredes até a chegada ao saguão igualmente vazio, com dois caixas eletrônicos de um lado, a escada colada à parede a dezoito, dezenove passos na diagonal e do outro lado, logo na curva, a porta com o papel A4 colado e a inscrição na letra de computador, em negrito, toda em caixa alta: redação.

O piso bonito, caro, não ultrapassou a metade da redação, parou na linha divisória da Belíndia, como brincava o repórter nada original, na condição de editor, nas conversas bem vindas com o editorialista, anterior à construção da sede antiga, que abatido estava, lógico, com o fim de cinco ou seis, talvez sete décadas da rotina no mesmo jornal, isso menos de três anos depois do anúncio da venda, da futura mudança e de investimentos vários com o dinheiro do prédio antigo, histórico, em e-mail repleto de esperança, assinado pelo presidente da empresa.

Mas veio o fim, e com ele o repórter, onze anos depois, voltou a assinar um texto ontem, numa data particularmente das mais importantes. Não é em papel impresso, como mandam os dias de hoje, e nem trabalho só de repórter, mas é um espaço a ocupar, sobretudo a apoiar, ainda mais nesses dias, aqui pelas bandas do nosso Brasil.

A matéria abaixo foi a única fechada pelo repórter na última edição, espremida num caderno só de oito páginas, só o dobro do tamanho da primeira edição do jornal quase bicentenário.

Jornal do Commercio, edição de sexta-feira e sábado, 29 e 30 de abril de 2016

"A saída seria o povo ser ouvido".

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou à presidenta Dilma Rousseff, nesta quinta-feira, sugestão do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para que ela recorra ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o avanço do pedido de impeachment, que deve ser votado no Plenário do Senado no próximo dia 11. Dilma e Lula se encontraram na tarde desta quinta-feira, em Brasília, para discutir as estratégias de enfrentamento ao processo de impeachment que será votado pelos senadores.
No encontro de uma hora e meia no hotel em que Lula se hospeda em Brasília, Valadares disse ao ex-presidente que, se há uma insistência de aliados de Dilma em dizer que há um golpe parlamentar em curso, cabe à presidenta ir ao Supremo para barrar uma eventual arbitrariedade. Para o socialista, o melhor momento a se fazer isso é antes da votação do Plenário. O senador avaliou que, ao não fazer isso, os governistas querem ficar com o "discurso do golpe" para futuras eleições.
Valadares afirmou que o ex-presidente considerou bons os argumentos e avisou que iria falar com Dilma. "A presidenta não pode deixar de não provocar o Supremo", disse Lula, segundo Valadares. O senador do PSB contou ao ex-presidente já ter feito a mesma sugestão ao advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, em encontro recente realizado no gabinete da senadora petista Gleisi Hoffmann (PR). O senador do PSB disse que o ex-presidente, a quem diz conhecer há "muitos anos", não pediu voto do socialista para barrar a saída temporária de Dilma. Valadares já se manifestou publicamente a favor do afastamento da presidenta.
No café da manhã, Lula perguntou a opinião de Valadares sobre a antecipação das eleições presidenciais. O senador do PSB respondeu que a medida não consta da Constituição e tampouco passaria no Congresso. Ele lembrou que o PMDB, partido cujo presidente licenciado, o vice Michel Temer, será o beneficiário com o afastamento de Dilma, comanda a Câmara e o Senado. Lula disse ao senador do PSB que a população deveria ser consultada novamente a respeito de qual governante quer para o País. "A saída seria o povo ser ouvido", afirmou o ex-presidente.
A presidenta acertou com o ex-presidente a ida dos dois às comemorações do dia 1o de Maio no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. O governo quer transformar este ato em mais uma grande manifestação em defesa do mandato de Dilma, com discursos inflamados e grande presença dos movimentos sociais. Neste dia, a presidenta pretende também anunciar medidas que possam beneficiar os usuários do Bolsa Família, com o objetivo de fazer um contraponto às promessas que estão sendo feitas por Michel Temer.
A reunião dos dois no Palácio da Alvorada teve participação dos ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e da Chefia de Gabinete, Jaques Wagner. Lula, em sua nova passagem por Brasília, intensificou as conversas com senadores de vários partidos. Ao mesmo tempo, deu prosseguimento às discussões sobre o melhor momento de levar adiante as discussões sobre a proposta de antecipação das eleições presidenciais.