quinta-feira, 19 de novembro de 2015

FESTA DE ARROMBA

A festa do ano mal tinha começado e os salões do palácio no meio da Baía de Guanabara estavam ainda vazios quando o repórter avistou no meio deles, sozinho, o playboy das antigas, já idoso e sentado tranquilamente num dos sofás estrategicamente colocados pela superprodução da comemoração pelos quarenta anos daquele a quem o playboy das antigas admitiu conhecer "apenas superficialmente". A missão da noite era fazer a crônica da festa, mais na base da observação, calado, comendo lagosta e bebendo cerveja, do que incomodando os convidados com perguntas triviais berradas ao pé do ouvido. Mas era preciso, ainda, colaborar com outra matéria, de outra colega de redação, também presente ao regabofe. Então bastou uma pergunta para conseguir o aval do playboy das antigas, cuja fama se estendia a divas internacionais de sua época, a confirmação dele de que, como notório conquistador, o dono da festa era, sim, sem dúvida, seu legítimo herdeiro.

As duas matérias, no fim das contas, saíram assinadas pelos dois repórteres, então, a matéria abaixo foi assinada também pela Vivianne Cohen

Revista Istoé Gente, edição 155, de 22 de julho de 2002

No fim do espetáculo, uma enorme caixa de presente foi levada ao palco. De dentro, surgiu Jorge Fernando, o diretor global encarregado de animar a festa e ler um texto sobre o aniversariante com agradecimentos especiais a alguns de seus amigos, entre eles o candidato ao governo de Minas Gerais Aécio Neves, ausente na Ilha Fiscal. 

No sábado 13, um terminal de aeroporto montado na zona portuária do Rio de Janeiro anunciava viagens no tempo para o período jurássico ou os anos 80. Vôos interplanetários até Marte, Krypton, a terra do Super-homem, ou Naboo, planeta criado por George Lucas em Guerra nas Estrelas. Confirmada no painel, porém, só a viagem aos anos 60, no vôo da Accioly Air. Era a entrada da superfesta do empresário Alexandre Accioly, que alugou a Ilha Fiscal – o palácio da Marinha onde foi realizado o último baile do Império no Brasil – para comemorar seus 40 anos na companhia da família, amigos e uma legião de celebridades. A garantia da diversão regada à champanhe Veuve Cliquot e uísque oito anos, além de 200 quilos de lagosta e camarão, entre outras iguarias, custou cerca de R$ 600 mil. Tudo para que nada faltasse aos 1.465 convidados, entre eles a nova namorada do empresário, a atriz Carolina Ferraz, e o craque Ronaldo, o Fenômeno, alguns dos famosos presentes.
O terminal de aeroporto era só a primeira das surpresas preparadas no regabofe de Accioly. Tão logo mostravam as carteiras de identidade nos computadores da entrada – requisito obrigatório para evitar penetras –, os convidados entravam num túnel do tempo com imagens que iam dos anos 60 aos 90. Na saída, uma banda cover dos Beatles tocava entre um bar onde eram servidos cuba libre e hi-fi, drinques típicos dos anos 60, e alguns ônibus e carros da época em que Alexandre nasceu, destinados ao transporte até a Ilha Fiscal. No palácio, quase tão iluminado quanto o Cristo Redentor, a recepção ficava a cargo de uma bem-humorada trupe de homens de preto com enormes perucas black-power, e um grupo de barbarellas que lembravam a personagem de Jane Fonda, mas não esqueciam o dono da festa, cujo retrato sorridente estampava seus vestidos. A mesma foto, aliás, exibida na entrada do túnel do tempo, ao lado de figuras como Elvis Presley e Marilyn Monroe.
Anônimos ou famosos, os convidados entraram no clima. Entre barbarellas e homens de jaquetas de couro, havia um Elvis, alguns mutantes, lembrando a banda que lançou Rita Lee, e, claro, pelo menos duas Marilyns Monroe. O apresentador Luciano Huck foi de Aristóteles Onassis, ao lado da namorada Astrid Monteiro de Carvalho, de Jackie O. As globais Priscila Fantin e Luana Piovani vestiam figurinos da época, sem representar personagens específicos. Rodrigo Santoro, de terno, gravata e óculos escuros, encarnava uma espécie de policial das antigas.
Circulando pela festa, Accioly era só felicidade enquanto cumprimentava os convidados. “Estou demorando a falar com todo mundo porque só tem amigo aqui. Não é aquela festa em que o dono não conhece um monte de gente”, disse a um de seus milhares de amigos. Pelo menos um deles, no entanto, ainda não era tão conhecido do anfitrião. “Ouvi falar do Alexandre e soube que as festas dele são bacanas”, afirmou Kléber, o Bambam, devidamente trajado com uma jaqueta preta e o indefectível boné que, ao lado da boneca Maria Eugênia, o tornou famoso na primeira versão do Big Brother Brasil.
Quando parte dos convidados já se deliciava com a lagosta e algumas das 600 coxas de pato do buffet, começou a apresentação dos bailarinos revivendo números de Hair, o musical que traduziu a cultura hippie dos anos 60. No fim do espetáculo, uma enorme caixa de presente foi levada ao palco. De dentro, surgiu Jorge Fernando, o diretor global encarregado de animar a festa e ler um texto sobre o aniversariante com agradecimentos especiais a alguns de seus amigos, entre eles o candidato ao governo de Minas Gerais Aécio Neves, ausente na Ilha Fiscal. O discurso de Jorge Fernando, lido enquanto o telão do palco exibia imagens de álbum de família de Alexandre, só foi interrompido com o rebuliço causado pela chegada de Ronaldinho.
A confusão foi logo contornada com o deslocamento de três seguranças para cercar o craque e manter os fotógrafos a distância. Saudado por uma chuva de papéis picados e pelos neons coloridos nas mãos dos convidados, o anfitrião subiu ao palco e, ao lado da mãe, Graça, apagou a vela do enorme bolo com uma foto sua no alto, a mesma do túnel do tempo e do vestido das barbarellas. Por volta das 2h30, no fim do show do RPM, a atriz Carolina Ferraz surgiu na festa. Saiu de São Paulo, onde se apresentou no teatro, no helicóptero que Accioly mandou para que ela chegasse a tempo. Foi a senha para que a imprensa fosse convidada a se retirar e os convidados pudessem ficar mais à vontade dentro da iluminada Ilha Fiscal.