quarta-feira, 19 de outubro de 2016

TUBARÃO

A matéria abaixo tinha uma outra ao lado, menor, com um sujeito chamado Otto Bismarck, à época "representante no Brasil do Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões, da Universidade da Flórida, EUA". Otto cogitou, na entrevista por telefone ao repórter, a possibilidade de o animal da história ser um tubarão branco. Dias depois, ele confirmaria isso e garantiria que, pelo tamanho da mordida na perna do sujeito, o tubarão só podia ser o branco, o mesmo do filme, clássico, do cartaz ao lado, talvez um pouquinho menor.

Abaixo, a matéria

Jornal do Brasil, edição de terça-feira, de 22 de abril de 1997

"Virei a prancha para voltar e acho que caí quase em cima do tubarão. Só senti a mordida, um puxão na perna, e vi o tubarão saindo, entre o meu corpo e a prancha".

O windsurfista João Pedro Portinari Leão, de 22 anos, foi atacado por um tubarão quando velejava domingo na Enseada de Manguinhos, a cinco quilômetros da costa de Búzios, na Região dos Lagos. João Pedro foi mordido na perna esquerda quando cai da prancha e, apesar de ter perdido 50% da musculatura da panturrilha, ainda velejou por cerca de 20 minutos até a Praia Rasa, onde foi socorrido por um casal de turistas de São Paulo. O acidente surpreendeu moradores e ambientalistas de Búzios, uma vez que este foi o primeiro ataque de tubarão registrado na região nos últimos seis anos.
João Pedro saiu para velejar com um amigo às 13h. Os dois chegaram à Ilha Rasa, a três quilômetros da costa e, de lá, João Pedro seguiu sozinho. "Meu amigo resolveu voltar, mas continuei, até porque já estou acostumado a velejar sozinho por ali", disse o windsurfista, que é sobrinho-neto do pintor Cândido Portinari.
Ao fazer a manobra conhecida como jibe, para voltar à praia, João Pedro se desequilibrou, caiu na água e foi imediatamente mordido pelo tubarão. "Tudo se passou em alguns segundos. Virei a prancha para voltar e acho que caí quase em cima do tubarão. Só senti a mordida, um puxão na perna, e vi o tubarão saindo, entre o meu corpo e a prancha".
Mesmo com metade da panturrilha esquerda dilacerada, o windsurfista conseguiu fazer o chamado water start para subir na prancha - numa manobra que, ironicamente, é conhecida entre os praticantes do esporte como a "hora do tubarão": o windsurfista tem de ficar segurando a vela com metade do corpo dentro d'água, esperando uma rajada de vento para subir junto com a prancha.
Na Praia Rasa, João Pedro foi socorrido por um casal de paulistas. "Tive medo de desmaiar quando estava voltando. Quase apaguei duas vezes e achei que ia morrer se caísse na água de novo", disse. O windsurfista foi levado pelo casal até a casa de um amigo, na Praia Rasa e, de lá, foi para a Clínica Búzios, onde levou cerca de 250 pontos na perna.
João Pedro chegou de avião ao Rio, ainda no domingo, e foi examinado na Clínica Sorocaba, em Botafogo. O windsurfista disse que não chegou a sentir dor. "Só fiquei muito fraco".
Com viagem marcada para julho, quando iria surfar no Taiti, João Pedro teve de mudar seus planos, mas garantiu que voltará a velejar e surfar assim que se recuperar totalmente. A idéia de tatuar um tubarão na perna, no entanto, foi deixada de lado. "O tubarão já deixou a marca dele em mim", brincou João Pedro que, seguindo os passos de sua família, pratica esportes marítimos desde criança.
A previsão para a recuperação total é de, no mínimo, oito meses. João Pedro descansa em casa, no Parque Guinle, em Laranjeiras, na companhia da namorada, a jornalista Mariana Becker.
A notícia do ataque de tubarão surpreendeu o ambientalista Tito Rosemberg, que mora em Búzios há 15 anos. "Temo que haja uma repercussão negativa desse fato, já que Búzios é uma das melhores raias de vela do Brasil. Também velejo e já vi algumas galhas (barbatanas). Talvez os tubarões tenham aparecido por causa da grande quantidade de peixe morto que é deixada na enseada pelos pescadores", disse.