
Abaixo, a matéria.
Revista Istoé Gente, edição 182, de 27 de janeiro de 2003
“Sou do PDA, Partido dos Amigos.”
Até meados de 2001, o cantor Zezé di Camargo nunca tinha votado em Lula e alimentava sua aversão ao PT associando o partido a invasões de terra. O irmão, Luciano, votara no líder petista em 1989, mas também era contra qualquer aproximação com políticos. Em comum com o atual presidente, a dupla tinha apenas um amigo: o advogado goiano Paulo Viana, 46 anos. Hoje, depois de Zezé di Camargo e Luciano terem ajudado a eleger Lula fazendo shows por todo o Brasil, Paulo é quem comemora. Afinal, foi ele o responsável pela amizade que liga o homem mais importante do País aos artistas que chegam a vender 2 milhões de cópias por disco.
Amigo dos cantores desde o início dos anos 90, quando intermediou a venda de um apartamento de Zezé em Goiânia e passou a trabalhar para a dupla, Paulo começou a costurar a aliança com Lula no final de 1998, após a terceira derrota do petista numa eleição presidencial. Ao se encontrar com Zezé num estúdio em São Paulo, acompanhou a gravação de “Meu País”. “Disse ao Zezé que, com aquela música, o Lula ganharia, mas ele nem ligou”, lembra o advogado.
Mesmo sem sensibilizar o amigo, Paulo mandou a música para o atual presidente. Três anos depois, estava em sua chácara, em Goiânia, quando recebeu um telefonema de Lula. “Ele me disse que o Duda Mendonça queria usar a música no programa anual do partido e me pediu pra tratar disso com o Zezé”, conta. Depois de falar com Duda e saber que o publicitário estava finalizando o programa naquele mesmo dia, o advogado precisou de uma hora de conversa no telefone para convencer o sertanejo. “Ele aceitou porque o Lula tinha sido o único político a se sensibilizar com a música”, explica Paulo. “Antes tinha a impressão de que quem estava com o Lula era só o pessoal que fazia baderna ou gente dos sindicatos. Vendo que o Paulo, um advogado bem sucedido, apoiava o Lula, comecei a mudar de idéia”, conta Zezé.
Um dia depois de o programa ir ao ar, o advogado foi novamente requisitado por Lula, dessa vez para marcar um encontro de agradecimento com os cantores. A reunião, num jantar na casa da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, aconteceu 10 dias depois e marcou a mudança definitiva na posição de Zezé. Sem o irmão Luciano, que ficou gravando no estúdio, Zezé saiu do jantar dizendo a Paulo que queria participar mais da campanha. “Ele ficou impressionado com o preparo do Lula. Os dois falaram de cidades que eu nem conhecia. Quando voltou ao estúdio pra continuar a gravação, o Zezé já brincava chamando todo mundo de companheiro”, lembra o advogado.
Além da união com a dupla, Paulo sempre incentivou Lula a abrir o leque de alianças, desde o primeiro encontro dos dois, em 1993, no escritório do petista em São Paulo. Acompanhando o empresário Luiz Antônio de Carvalho, seu cliente e filiado ao PT, o advogado expôs sua opinião ao político, que marcou a continuação da conversa para quando fosse a Goiânia.

Casado com Rosa e pai de Denise, 22, e Fernando, 19, o advogado hoje é amigo do presidente, mas garante que sua participação no governo não passa disso. Se bem que, com a experiência de quem saiu de Goiás Velho, onde nasceu, aos 16 anos para tentar a vida em Goiânia, costuma dizer que poderia ser político. “Fui office-boy e cobrador de porta em porta para pagar meus estudos. Biografia para político eu tenho”, brinca o advogado que, apesar de carregar na lapela a estrela dourada presenteada por Lula, não se diz petista. “Sou do PDA, Partido dos Amigos.”