segunda-feira, 13 de agosto de 2012

E VEIO O OURO


Não, não estamos falando de ontem, quando o Brasil abriu dois sets a zero, deu pinta de que levaria o tri olímpico mas acabou sendo surpreendido por uma virada espetacular, e merecida, da Rússia. Falamos de 2002, quando a seleção brasileira, ouro em Barcelona dez anos antes, finalmente venceu um campeonato mundial de vôlei, sob o comando de Bernardinho, que começava a virar unanimidade. Só faltava, para ele, o ouro olímpico, que viria dois anos depois, em Atenas, numa vitória de 3 a 1 sobre a Itália.

Abaixo, a matéria, que foi assinada também pelo Marlos Mendes.

Revista Istoé Gente, edição 168, de 21 de outubro de 2002

“Ele tem melhorado, mas continua sem se desligar”

A escuridão do teto do ginásio Luna Park, em Buenos Aires, era a mesma de 20 anos atrás. Lotadas, as arquibancadas também balançavam como em 1982, mas não com brados contra a ditadura militar, que se despediria da Argentina em 1983, e sim no embalo de torcedores dispostos a esquecer, pelo menos por hora, a crise econômica. Aliadas às duas principais recordações de quando jogou e perdeu, para a União Soviética, a única final de um Mundial de vôlei disputada pelo Brasil, o ex-levantador Bernardinho ainda tinha o adversário do último domingo 13, a Rússia, para reforçar suas lembranças. Com tantas coincidências, foi inevitável que, treinando a seleção masculina que deu ao Brasil o primeiro título mundial no esporte com a vitória por 3 sets a 2, Bernardo Rezende, 43 anos, quisesse compartilhar a alegria com os ex-companheiros. “Nossa geração abriu caminho para que ganhássemos um Mundial”, justifica o técnico.
Da época de jogador, Bernardinho manteve o hábito de exigir o máximo da equipe, daí a fama de durão, negada por ele. “Sou é exigente. Dava duro em jogadores muito melhores do que eu, como Renan, Fernandão, Bernard, porque não admitia talentos tão grandes desperdiçarem isso sem dar 100% nos treinos”, diz, referindo-se aos colegas de 1982. Hoje, a exigência é ainda maior. “Não brigo porque a pessoa erra, mas porque ela se desconcentra. Se isso acontece é porque não dá toda a atenção necessária”, explica.
Talvez este seja um dos ingredientes da receita de vitória de Bernardinho. Outro é a união dos jogadores. “A força do grupo é fundamental, assim como a presença de lideranças”, ensina o treinador. Ele teve conversas reservadas com Giovane e Giba. Com Nalbert, chegou a treinar separadamente para que o capitão do time voltasse logo ao ápice de sua forma.
Nada muito diferente do que fez na seleção feminina, que conquistou duas medalhas de bronze olímpicas em 1996 e 2000. É dessa forma que Bernardinho pretende realizar outro sonho. “Falta o ouro olímpico”, reconhece. Por pouco ele não seguiu outra profissão. Em 1984, formado em Economia, ele estagiou 4 meses no banco Garantia. Saiu para ganhar a medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles, no mesmo ano.
Um convite da ex-jogadora Dulce para treinar a modesta equipe feminina do Peruggia, na Itália, em 1989, sepultou a carreira de economista. Bernardinho ganhou uma Copa da Itália e começou a mostrar sua obsessão por trabalho. Além de técnico e preparador físico, dirigia o ônibus das jogadoras. “Cheguei a rodar quando havia gelo na pista, mas ninguém se machucou”, lembra.
A levantadora Fernanda Venturini, casada com Bernardinho há sete anos, confirma sua obsessão pelo trabalho. “Ele tem melhorado, mas continua sem se desligar”, entrega a mãe de Júlia, 10 meses, filha caçula do técnico campeão. O outro filho, Bruno, 16, do casamento com a ex-jogadora Vera Mossa, joga vôlei pela seleção juvenil de São Paulo. “Ele já tá jogando melhor que eu”, garante o pai coruja.