quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O MOCINHO

Prestes a terminar, Avenida Brasil já é uma das melhores novelas da história da tevê. E o galã da história, hoje mais que consolidado como bom ator, tava só começando na época da entrevista. Atuava em sua primeira novela. Tranquilo, despreocupado, com uma namorada linda dormindo logo ali, no quarto ao lado, ele contou coisa à beça debaixo do sol da manhã, no pátio de uma cobertura do Recreio. O resultado tá aí embaixo.

Revista Istoé Gente, edição 237, de 23 de fevereiro de 2004

“Dormimos sentados, um encostado no outro, pra ninguém tocar na gente.”

Antes de estrear na Globo, no início de 2002, como o Mau-Mau de Malhação, Cauã Reymond, 23 anos, até fez um curso de interpretação em tevê. E pronto. Acaba aí qualquer semelhança na trajetória do namorado de Alinne Moraes com o caminho percorrido pela maioria de seus colegas. De campeão de jiu-jítsu, passou a modelo internacional aos 18 anos. Morou em Milão, Paris e Nova York, onde decidiu trocar de profissão. Enquanto enfrentava as dificuldades comuns aos latinos na maior cidade americana, incluindo aí dois dias passados na cela de uma cadeia, ao lado de criminosos, começou a estudar para ser ator. Hoje, interpretando o personagem Thor em Da Cor do Pecado, sua primeira novela, e após estrear no cinema em Odiquê, de Felipe Joffily, ele se diverte ao lembrar de tudo o que passou para se firmar na nova carreira.
O atual papel lhe reservou um ponto em comum com o início de tudo: Thor é um lutador profissional. A diferença é que, ao contrário do jiu-jítsu praticado pelo ator desde os 13 anos, as lutas da novela são mais parecidas com o kung fu. Para se adaptar, Cauã fez aulas da arte marcial durante um mês, o que não evitou algumas escoriações decorrentes dos treinos e gravações. “Já machuquei as duas mãos dando socos no saco de boxe”, conta o catarinense de Camboriú.
Bicampeão brasileiro de jiu-jítsu, aos 17 e 18 anos, Cauã entrou na carreira artística através do esporte. Em 1997, a Company, loja que o patrocinava, contratou a então modelo iniciante Ana Hickmann para estrelar uma campanha publicitária à frente de atletas financiados pela marca. Aprovado num teste, o lutador estreou como modelo. O problema era disfarçar as marcas adquiridas nas competições que continuou a disputar. “Lutar me mantinha com o pé no chão”, afirma.
O jiu-jítsu só foi abandonado em 1999, quando o modelo morou seis meses em Milão. A carreira ia bem e, após uma rápida volta ao Brasil, passou mais seis meses na Europa, dessa vez em Paris. Em 2000, mudou-se para Nova York e foi lá que começou a se sentir desconfortável na profissão. “O mercado passou a preferir aqueles tipos ingleses com cabelinho chanel, em vez dos caras mais sarados. Não estava pra mim”, recorda.
O jeito foi tentar ser ator. Para isso, Cauã contou com a sorte de, logo no primeiro teste, agradar à atriz Susan Batson, famosa por treinar Nicole Kidman e Tom Cruise. “A Susan me deu um monólogo e me mandou ler para a parede. Nem sei direito o que falei, mas ela amou. Disse que eu era um Marlon Brandon latino”, conta o ator, que arrumou ali um motivo a mais para freqüentar o curso. “Tinha acabado de terminar um namoro. Precisava ouvir elogios”, brinca.
Dois meses depois, a falta de dinheiro o fez voltar ao Brasil, mas uma conversa com o pai, o psicólogo José Marques, o ajudou a mudar de idéia. “Senti que Nova York seria bom para o Cauã. Ele estava progredindo lá”, diz Marques. Com US$ 600, o ator voltou, e de imediato participou de um workshop com o cineasta Spike Lee, que lhe fez um elogio e um alerta. “Ele disse que eu tinha energia sexual, mas era muito teatral”, diz.
A experiência mais marcante do ator nos EUA, porém, seria a mesma de milhões de pessoas. “Estava entrando num ônibus quando vi o segundo avião atingir a torre do World Trade Center. Acho que foi a cena mais impressionante que vi na vida, mas não sei descrever o que senti, até porque naquele momento não estava entendendo nada do que estava acontecendo”, conta ele. Na época, a falta de dinheiro tinha levado Cauã a dividir um apartamento com um árabe no bairro Spanish Harlem, o que o deixou ainda mais apreensivo após o atentado de 11 de setembro. “Dormia com uma faca embaixo do travesseiro”, lembra.
Mas foi ao lado de um amigo brasileiro que a dificuldade de ser estrangeiro em Nova York ficou mais evidente. Numa farmácia, o ator tentou convencer o amigo a não roubar uma barra de proteína. Descobertos pela segurança, os dois acabaram detidos porque estavam sem passaporte. Passaram dois dias numa cela com 20 presos até resolverem a situação pagando uma fiança de US$ 100 cada. “Dormimos sentados, um encostado no outro, pra ninguém tocar na gente.”
As dificuldades continuaram até a volta definitiva ao Brasil, no fim de 2001. Mesmo elogiado por professores como o cubano Carlos Leon, ex-marido de Madonna, ele não quis esperar a chance de iniciar a carreira no exterior. “O mercado estava mais para os americanos, e já tinha o Antonio Banderas”, diz.
Há um ano e meio no Rio de Janeiro, Cauã mora com Alinne Moraes no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste da cidade. A afinidade entre o casal é o segredo para lidar com o assédio que a beleza de ambos provoca. “Gosto de ver minha mulher o mais bonita possível. A Alinne tem noção do ridículo. Não vai sair com os peitos pulando para fora da roupa e sabe lidar com cantadas. Por isso ela é minha mulher”, afirma. Assim, brigas sérias por causa de ciúme passam longe do casal. “Tenho o ciúme normal, que existe em qualquer relacionamento, mas nunca precisei brigar com ninguém porque o Cauã se dá ao respeito”, diz Alinne. “Adoro que ele seja admirado, mesmo porque estou com ele não só porque o amo, mas porque ele é inteligente e desejado.”