segunda-feira, 21 de novembro de 2016

FLORZINHA

Na época da matéria abaixo, Clarissa Garotinho era uma menina de 20 anos que começava a dar os primeiros passos na política, mesmo dizendo que não queria isso. Foi eleita vereadora sete anos depois. Aos 29 foi eleita deputada estadual e aos 33 assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília. Vivia-se o auge do poder da família Garotinho no tempo da entrevista, bem diferente dos dias conturbados de hoje, nos quais Clarissa voltou a ficar em evidência por conta de cenas que em nada contribuem com a busca eterna, utópica, por uma sociedade saudável, e que não deveriam ter sido tão difundidas como de fato foram, no show de horrores que a chamada grande mídia, principalmente, ajudou a transformar o País. 

Revista Istoé Gente, edição 163, de 16 de setembro de 2002

“Se um dia perceber que isso fará parte de um projeto para o bem, aceito, mas por enquanto, não”.


No fim de junho passado, Clarissa Matheus, 20 anos, reuniu-se pela primeira vez com equipes de panfletagem da campanha do pai, Anthony Garotinho, à Presidência. Depois de dar dicas sobre o trabalho a ser feito, foi ovacionada por um coro que a chamava de Florzinha. Referência ao nome da mãe, a candidata ao governo do Rio Rosinha Matheus, o apelido foi apenas uma brincadeira de correligionários, mas a vocação política da mais velha entre os quatro filhos biológicos de Rosinha e Garotinho já é uma realidade. Clarissa acompanha Garotinho nas viagens pelo Brasil, representa a mãe no interior do Rio e, desde a sexta-feira 6, tem uma agenda própria de compromissos eleitorais.
É dela a responsabilidade de manter a tradição da família apresentando semanalmente um programa de rádio, compromisso que teve início com Garotinho quando este era prefeito de Campos. A tarefa estava a cargo da mãe, que acabou impedida pela Lei Eleitoral. Mesmo substituindo a mãe, Clarissa optou por ficar mais próxima do pai. “Meu pai sempre teve minha mãe do lado. Agora ela não pode acompanhá-lo e estou no lugar dela”, explica. Nada, porém, que provoque ciúmes na candidata a governadora. “Clarissa está despontando como uma liderança jovem. Esperava isso”, diz Rosinha.
O interesse pela política começou cedo. Aos 4 anos, decorava o jingle da campanha do pai, então candidato a deputado estadual, e o repetia nas aulas. “Subia na cadeira e falava para os colegas.” Na Faculdade Cândido Mendes, onde cursou um período de Direito, interrompeu uma palestra para defender Garotinho, durante a crise provocada por denúncias de que o cineasta João Moreira Salles teria auxiliado financeiramente um traficante carioca. As denúncias culminaram com a saída do governo do então coordenador de Segurança Pública Luís Eduardo Soares. “Ele falou mal do meu pai o tempo todo. Me apresentei, pedi a palavra e dei a minha versão dos fatos. Tinha umas 300 pessoas no auditório, que me aplaudiram de pé”, conta, orgulhosa.
Na aula do curso de Jornalismo da Faculdade Hélio Alonso, um professor criticou o Piscinão de Ramos, menina dos olhos do governo Garotinho. Sem informações suficientes para se defender, Clarissa levantou, junto a assessores do pai, todo material que precisava sobre o projeto. Na semana seguinte, convenceu o professor de que ele estava errado.
A faculdade está trancada no 5º período por causa da campanha. Há dois meses, terminou um namoro de dois anos, o que só fez aumentar o ciúme de Garotinho. “Quando atendo o celular ele fica logo perguntando quem é. E, quando percebe alguém me olhando nas passeatas, me abraça logo”. A julgar pelos recados apaixonados recebidos por Clarissa, o ciúme do pai é justificável. “Um garoto mandou e-mail para o PSB dizendo que eu era a musa dele. Outro, me escreve de Santa Catarina desde julho, mas isso é onda de campanha. Deve acontecer com filhas de outros candidatos”, despista com modéstia.
Seguir carreira política, porém, ainda está fora dos planos de Clarissa. “Se um dia perceber que isso fará parte de um projeto para o bem, aceito, mas por enquanto, não”, diz ela, que assume ter herdado a determinação do pai e a teimosia da mãe.